O segundo texto da série “Protagonistas da Raça Jersey” é sobre Mariana Boeng, que cresceu em ambiente rural, onde a paixão pela pecuária leiteira foi despertada desde muito cedo. A Cabanha Real, propriedade de sua família, fundada no ano 2000, começou de maneira discreta com a aquisição das primeiras vacas PO por seu pai, Vilson Boeng. Naquela época, além da bovinocultura leiteira, a fazenda abrigava outras atividades. No entanto, com o tempo e a dedicação, a pecuária leiteira tornou-se o foco principal.
Foto: Giulia Botan.
Desde pequena, Mariana já demonstrava um grande interesse pelo cuidado dos animais. “Ainda criança, já tinha a tarefa de cuidar das bezerras, principalmente as que ainda estavam em aleitamento,” ela compartilha. Esse amor a levou a escolher a Medicina Veterinária como profissão, consolidando sua presença na gestão da propriedade.
Hoje, Mariana é uma peça-chave nas decisões da fazenda, trabalhando lado a lado com seu pai. Ela é responsável pela escolha dos touros, acasalamentos, decisões sobre participações em feiras, e a documentação dos animais, incluindo registros e cuidados sanitários. “Atualmente, todas as decisões são tomadas em conjunto, mas algumas estão mais sob minha responsabilidade,” explica.
A gestação de seu primogênito trouxe novos desafios para Mariana, especialmente em equilibrar sua rotina como docente, pecuarista, gestora e mãe. "Foi uma fase de muita correria. Na época, eu ainda trabalhava em um frigorífico e como professora em cursos on-line,” ela relata. Apesar das dificuldades, com o apoio da família, conseguiu ajustar suas responsabilidades e aprender a gerenciar melhor seu tempo. "Hoje, preciso ter um maior controle do tempo em cada atividade, pois sempre tem o Matheus me esperando e dependendo de mim," diz, referindo-se ao seu filho.
Quando questionada sobre as mudanças na participação feminina no campo, Mariana é enfática: “Ocorreram muitas mudanças! Atualmente é normal encontrarmos mulheres assumindo as propriedades. Acredito que cada pessoa tem um perfil que deve ser o determinante para ser ou não um líder, e não o sexo.” Ela acredita que a crescente presença feminina na pecuária leiteira é uma evolução natural e bem-vinda, ressaltando que as mulheres podem, sim, liderar no campo sem perder sua essência.
Entre as memórias marcantes de sua trajetória, destaca a história com a vaca Morena Minister Real, que a acompanhou desde a infância. “Ganhei uma bezerra do meu pai quando eu era pequena, que eu sempre ia trocando por alguma outra que nascia mais bonita. Até que nasceu a Morena, uma bezerra linda com pelagem acinzentada e cílios clarinhos. Como ela continuava linda, nunca troquei ela.” Mariana relembra com carinho de sua bezerra favorita.
Para Mariana, discutir e aprender sobre as atividades diárias da fazenda é fundamental, especialmente no contexto da sucessão familiar. Ela observa que muitos jovens estão deixando a zona rural, muitas vezes devido à falta de incentivo. “Quanto mais conversas e documentários sobre o assunto, melhor. Isso nos coloca em situações de dúvidas e de pensamentos mais aprofundados sobre como enfrentar cada situação com as crianças,” conclui.
Mariana Boeng é um exemplo de como a dedicação, o amor pelos animais e a visão estratégica podem se unir para criar uma gestão eficaz e apaixonada na pecuária leiteira. Seja como professora, pecuarista, Médica Veterinária, mãe, filha, irmã, madrinha, ou amiga, sua trajetória inspira outras mulheres a assumirem seus lugares no campo, sem deixar de lado suas particularidades e habilidades únicas.
Foto: Giulia Botan.
Foto da capa: Giulia Botan.