No dia 22 de fevereiro a empresa de equipamentos de ordenha DeLaval inaugurou a primeira sala de ordenha robotizada da América do Sul. Após 5 meses de operação e testes com o novo equipamento, a fazenda de Armando Rabbers, em Castro – PR, abriu suas portas para um grupo seleto de produtores que puderam conhecer de perto o primeiro VMS da América do Sul em funcionamento.
Imagem 1: Armando Rabbers e a Ordenhadeira Robotizada VMS DeLaval
Na cerimônia de inauguração, o proprietário da fazenda falou sobre os benefícios que o sistema robotizado trouxe com relação ao bem-estar dos animais, à sua equipe e à administração da propriedade, que se tornou mais gerencial e menos operacional.
Com o VMS DeLaval, a empresa afirma que o foco das propriedades deixa de ser as desgastantes rotinas de ordenha e possibilita o direcionamento das atenções para atividades mais rentáveis, como gerenciamento, manejo sanitário e nutricional do rebanho, entre outras.
“O equipamento deve ser considerado como um investimento estratégico para melhorar o estilo de vida e a produtividade e, para isso, deve ser entendido como uma ferramenta facilitadora para a superação dos desafios da produção de leite”, informa a empresa.
Como funciona
A DeLaval afirma que através do braço robótico do equipamento, cada teto é individualmente limpo com água e ar, em seguida, estimulado, pré-ordenhado e seco antes da ordenha. Devido ao jogo de câmeras ópticas associadas ao laser duplo, a empresa diz que há grande eficiência na visualização, garantindo a localização rápida e precisa dos tetos para a colocação das teteiras e efetivação da ordenha.
De acordo com a empresa, foi desenvolvido um medidor de leite independente para cada quarto do úbere com a finalidade de registrar separadamente o tempo, o rendimento, o fluxo, a condutividade e a presença de sangue no leite e, em casos de anormalidades, há um desvio automático.
Para que a ordenha seja realizada em condições higiênicas, a DeLaval acrescenta que o sistema robotizado possui desde o coletor de esterco integrado, até o sistema de limpeza do piso, que permite que as vacas permaneçam em uma superfície limpa em todos os momentos da ordenha.
Custos e retorno sobre o capital investido
Segundo Sidnei Hiroki Nakashima, Gerente de Produto – VMS da DeLaval, o levantamento dos valores para investimento em um sistema robotizado depende do desenvolvimento de um projeto específico, pela equipe da empresa, para cada propriedade produtiva, pois o projeto é influenciado por vários fatores, como o fluxo animal, por exemplo. Nakashima explica que tanto os projetos que saem do zero, como é o caso do projeto do Sr. Armando Rabbers, como os projetos onde os robôs serão adaptados a um sistema já existente, precisam passar por uma avaliação para que a implantação do sistema robotizado seja desenvolvida de forma eficiente.
“Com relação ao projeto do Sr. Armando, o investimento para a implantação da ordenha mecanizada foi estimado em R$19.000,00 reais por vaca, o que incluiu toda a infraestrutura e construção civil do projeto, mais os equipamentos da DeLaval e o biodigestor”, cita Sidnei.
A empresa estima o retorno sobre o investimento em cerca de 6 a 10 anos, entretanto, o Gerente de Produto da DeLaval diz que “é importante avaliar caso a caso para definirmos o cálculo de benefício para cada projeto”. Ele afirma que, no caso do Sr. Armando Rabbers, a previsão é de um retorno em 8-10 anos.
Outras empresa
Até o momento, este equipamento é exclusivo no mercado da América do Sul, entretanto, outras empresas como a GEA e a Sulinox já estão atentas ao segmento. A GEA informou que já está com projetos de implantação de uma nova ordenhadeira robô no Brasil.
O Diretor Comercia da GEA do Brasil, Fernando Sampaio, diz que a ordenha robô é mais uma opção de sistema de produção que será suave e progressivamente introduzida no país. “Isto porque não significa apenas a instalação de um equipamento, mas sim, de uma estrutura sólida de atendimento técnico e suporte ao produtor, demandando soluções complementares que envolvam climatização, conforto animal, tratamento de dejetos e uma mudança na própria forma de administrar a propriedade”, afirma Sampaio.
A empresa que já comercializa o equipamento na Europa e Estados Unidos, já está com projetos para os próximos meses de lançar um produto semelhante no Brasil, segundo o Diretor da GEA. Ele explica que estão em fase de prospecção de produtores cujo perfil se encaixe no projeto, pois “esses produtores, além de terem animais com boa padronização genética, precisam também ser focados no gerenciamento da propriedade e nas informações provenientes de um sistema de gestão eficaz”.
Sampaio ressalta que o diferencial do robô da GEA é um único braço robotizado que pode atender até 5 postos de ordenha, e que, com este recurso, o custo de um conjunto de módulos pode cair em até 40%. Cada box (posto de ordenha), segundo ele, pode atender de 50 a 65 animais dependendo do rebanho, da estrutura e da configuração do projeto.
Outros benefícios do sistema citados pelo Diretor da GEA incluem a padronização do processo de ordenha, o acesso a dados completos da produção, a disponibilidade de tempo para tarefas de gestão e um ambiente tranquilo e agradável para o animal.
Imagem 2: Ordenhadeira Robô da GEA
O Consultor Técnico da SULINOX, Lissandro Mioso, diz que o uso de sistemas de ordenha robotizados no Brasil é sim uma tendência, mas a longo prazo, pois acredita que antes dela se concretizar é preciso avançar muito na capacitação de mão de obra de operadores e técnicos, além de investir em infraestrutura básica como redes de energias elétricas. Mioso cita ainda que “esse investimento é o 1º no Brasil devido a uma série de benefícios comerciais e interesse do fornecedor em ser o pioneiro no país”.
Ao avaliar o potencial de mercado de um sistema deste perfil no Brasil, Lissandro Mioso diz que “pelo fato da produção de leite no país ser representada 80% por propriedades pequenas e familiares, se não houver um forte aporte do Governo para viabilizar esse tipo de equipamento, devido seu valor e complexidade de funcionamento, será muito complicado de ele ser implantado”. Portanto, conclui o consultor técnico, “hoje o mercado alvo para esse tipo de equipamento é o topo da pirâmide mercadológica da produção de leite, que abrange apenas cerca de 5% das propriedades de cunho empresarial”.
Segundo Mioto, no momento adequado onde o mercado esteja absorvendo essa tecnologia, a SULINOX pretende também implantar a tecnologia no Brasil, mas ele defende que há muito que se avançar na mecanização do leite antes deste investimento ser realizado, pois “se olharmos os países que migraram para o sistema robotizado, veremos que os mesmos já trabalhavam com ordenhas canalizadas anteriormente enquanto que aqui no Brasil ainda estamos utilizando, em muitas propriedades, ordenhas com balde ao pé”.
Opiniões de influentes do setor
O Professor Paulo Machado, da Clínica do Leite, não sabe ao certo se há grande mercado para ordenhadeira robô aqui no Brasil. “Tecnicamente não há, pois o equipamento é muito caro para o benefício proposto, a assistência técnica é temerária e a mão de obra para manejá-la pouco capacitada”, explica ele, que ainda complementa, “mas como o Brasil é surpreendente, é difícil se fazer qualquer previsão”. Entretanto, Machado diz que nos demais países do mundo tem havido um rápido crescimento do uso deste equipamento, não somente em fazendas com 60 – 120 vacas, como também em grandes unidades produtivas.
De acordo com Paulo Machado, trabalhos mostram que não há nenhum inconveniente da ordenha robotizada para o bem-estar dos animais, porém ele chama a atenção para qualidade do leite, pois há registros de aumento de CCS e CBT dependendo do manejo e da situação.
Para Marcos Veiga, Professor Associado da FMVZ-USP, “o uso de sistemas de ordenha robotizado é uma tendência em economias mais desenvolvidas, que tem deficiências de mão de obra maiores que as do Brasil e, o principal gargalo para sua implantação seria o investimento a ser feito”. Ele diz que é difícil se estimar o potencial deste mercado aqui no Brasil, afinal, “nem se sabe ao certo quantas ordenhadeiras existem no país (na verdade, nem mesmo se sabe quantos produtores existem)”, afirma ele. Sobre as implicações que esta ordenhadeira robotizada pode ter na saúde da vaca, Veiga cita que, de uma forma geral, a tecnologia hoje já está desenvolvida o suficiente para ter mínimos efeitos.
Esta matéria é do MilkPoint.