ESQUECI MINHA SENHA CONTINUAR COM O FACEBOOK SOU UM NOVO USUÁRIO
FAÇA SEU LOGIN E ACESSE CONTEÚDOS EXCLUSIVOS

Acesso a matérias, novidades por newsletter, interação com as notícias e muito mais.

ENTRAR SOU UM NOVO USUÁRIO
Buscar

O que explica a estagnação dos teores de sólidos do leite no Brasil?

POR FERNANDA ANTUNES

UM GRÁFICO, UMA ANÁLISE

HÁ 2 DIAS

5 MIN DE LEITURA

2
11

A composição sólida do leite conta com os componentes gordura, proteína, carboidratos, minerais e vitaminas, representando cerca de 12-13% da composição total do leite. 

A Instrução Normativa (IN) 76 de 2018 prevê que o teor mínimo de gordura e proteína deve ser de 3,0g/100g e 2,9g/100g, respectivamente. Juntos, os teores representam a maior porcentagem de sólidos do leite e possuem impacto direto no rendimento da produção de derivados lácteos para a indústria.

De acordo com o MAPA, em 2023, o Brasil apresentou um valor médio de proteína de 3,28% e de 3,72% para a gordura, valores esses acima do mínimo exigido na IN 76. No entanto, ao observarmos os dados de 2013 a 2023 do gráfico abaixo, podemos notar que os teores de gordura e proteína permanecem praticamente os mesmos - e bem abaixo dos valores da Nova Zelândia, um dos principais exportadores mundiais de lácteos. 

Chama a atenção que a diferença tem aumentado: em 2013, o leite das vacas neozelandesas tinha 22% mais gordura e proteína do que o leite das nossas vacas, ao passo que esse número foi 27% no ano passado.

Gráfico 1. Evolução do teor de sólidos do leite – Brasil e Nova Zelândia.

Evolução do teor de sólidos do leite - Brasil e Nova Zelândia.

Fonte: gráfico elaborado pelo MilkPoint Mercado a partir dos dados do DAS/MAPA e DCANZ.

Fatores ligados ao animal como a genética e estágio da lactação influenciam no teor de sólidos do leite das vacas, assim como a dieta fornecida pode elevar ou diminuir os valores de proteína e gordura no leite.

Em um cenário onde pelo menos 60% do leite produzido é destinado a produtos que demandam sólidos, como os leites em pó e os queijos (além de outros produtos como iogurtes, creme de leite etc.), era de se esperar que houvesse maior ênfase no aumento do teor de sólidos do leite produzido.

Todavia, aparentemente, isso não tem ocorrido no país, já que os teores de proteína e gordura não tiveram evolução nos últimos 10 anos. 

Mas o que explica essa estagnação nos teores de proteína e gordura do leite?

De acordo com um levantamento realizado pelo MilkPoint Mercado com alguns dos principais laticínios do Brasil, a bonificação por sólidos representa apenas algo próximo a 2% do preço final do leite.

Ainda, na comparação dos sistemas de pagamento das empresas em diferentes anos, observou-se pouca ou nenhuma variação nas tabelas e valores de bonificação por gordura ou proteína como % do preço total pago.

É necessário que o pagamento da matéria prima recolhida vá além da bonificação por volume de leite, a fim de estimular a produção de leite no país com maior teor de sólidos, não só beneficiando o produtor que receberá por isso, mas a própria indústria que obterá maior rendimento para a produção de derivados lácteos. 

E o que a Nova Zelândia está fazendo para obter altos teores de sólidos?

Diferente do Brasil, a Nova Zelândia realiza o pagamento da matéria-prima por kg de sólidos do leite, o que pode ser explicado como o principal incentivo aos produtores para buscarem constantemente o aumento nos teores de gordura e proteína no leite.

Outros fatores, como investimentos na nutrição, genética do rebanho e melhorias do sistema produtivo, são também protagonistas no elevado teor de sólidos do país, o que não deixa de ser um resultado oriundo do sistema de pagamento realizado.

Esses fatores, juntos, explicam a diferença na produção de sólidos entre Brasil e Nova Zelândia, que em 2023, apresentaram um somatório de proteína e gordura de 7,0% e 8,84% respectivamente. No Brasil, em 2024, esse valor sofreu redução e totaliza 6,92%.

E qual o cenário nos Estados Unidos?  

No país, a produção total de leite tem se apresentado estável nos últimos 3 anos, mas dois fatores mostram que a atividade nos EUA está longe de estagnar: a produção total que se apresenta constante está sendo produzida por menos vacas e o leite está mais rico no teor de componentes. A  redução no número de vacas no país está sendo compensada pela maior porcentagem de sólidos no leite. 

Os dados dos últimos anos demonstram um aumento significativo nos teores de sólidos, principalmente para gordura, impulsionando o valor do produto. Segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), as porcentagens médias de gordura e sólidos desnatados no leite americano apresentaram um crescimento constante nas últimas duas décadas. 

Em 2000, a matéria-prima continha em média 3,68% de gordura, enquanto em 2020 esse valor subiu para 3,95%. Nesse mesmo ano, o teor de proteína era de 3,18%. Os dados de 2024 indicam que os teores de gordura e proteína foram de 4,28% e 3,32%, respectivamente, totalizando 7,60%.

Alguns estudos nos últimos anos nos EUA, sugeriram que existem benefícios nutricionais na gordura do leite. Como resultado, a procura por produtos lácteos com maior teor de gordura aumentou substancialmente durante a última década. 

Esse cenário motivou a migração de algumas fazendas para raças leiteiras com maior teor de gordura, como a Jersey - embora as vacas holandesas continuem sendo a espécie predominante de vacas leiteiras nos Estados Unidos - contribuindo para o aumento dos teores de sólidos do leite americano. Além disso, o USDA destaca que melhorias na genética das raças predominantes e ajustes na nutrição das vacas também influenciaram o aumento de sólidos do leite.

O que tem sido feito no Brasil? 

O sistema de pagamento por volume no Brasil não incentiva muito os produtores a buscarem um maior teor de gordura e proteína no leite. Com a implementação de incentivos mais robustos baseados no pagamento por kg de sólidos, é provável que haja um esforço significativo por parte de consultores e produtores para aumentar os níveis de gordura e proteína no leite

A bonificação adequada por parte das indústrias é um dos caminhos para aumento da competitividade do leite brasileiro. Afinal, mais da metade de todo o volume de leite produzido no país é destinado para a produção de derivados, diretamente dependente do teor de sólidos para o rendimento. 

Nesse contexto, no Brasil, algumas empresas já têm desenvolvido estratégias para os sistemas de pagamento, visando remunerar de forma justa e incentivar a produção de leite com maior teor de sólidos, embora esses incentivos sejam ainda modestos. Além do benefício direto para a indústria e para o produtor, o aumento do teor de sólidos pode aumentar a competitividade do leite brasileiro no mercado internacional. 

 

A coluna "Um gráfico, uma análise" traz aos leitores uma informação rápida e ao mesmo tempo educativa, provocando reflexões e ideias. Se você tem uma sugestão para realizarmos uma breve análise, envie pra gente através deste formulário. 

 

Fontes consultadas:

MAPA

USDA

USDA - Os componentes do leite agrícola e seu uso entre produtos lácteos mudaram ao longo do tempo

Hoard’s Dairyman.

 

 

 

FERNANDA ANTUNES

Engenheira Agrônoma pela Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC/CAV.

2

DEIXE SUA OPINIÃO SOBRE ESSE ARTIGO! SEGUIR COMENTÁRIOS

5000 caracteres restantes
ANEXAR IMAGEM
ANEXAR IMAGEM

Selecione a imagem

INSERIR VÍDEO
INSERIR VÍDEO

Copie o endereço (URL) do vídeo, direto da barra de endereços de seu navegador, e cole-a abaixo:

Todos os comentários são moderados pela equipe MilkPoint, e as opiniões aqui expressas são de responsabilidade exclusiva dos leitores. Contamos com sua colaboração. Obrigado.

SEU COMENTÁRIO FOI ENVIADO COM SUCESSO!

Você pode fazer mais comentários se desejar. Eles serão publicados após a analise da nossa equipe.

ELIEZER FURTADO DE CARVALHO

SILVÂNIA - GOIÁS - PRODUÇÃO DE LEITE

HÁ UM DIA

Fernanda Antunes, parabéns pelo artigo publicado.
PAULO FERNANDO MACHADO

PIRACICABA - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

HÁ UM DIA

Fernanda, é importante mencionar que nos EUA a proteína é expressa em proteína verdadeira e não bruta como é aqui no Brasil. Para estimar a proteína bruta deve-se somar 0,19 ud% à proteína verdadeira. Abraço.

Assine nossa newsletter

E fique por dentro de todas as novidades do MilkPoint diretamente no seu e-mail

Obrigado! agora só falta confirmar seu e-mail.
Você receberá uma mensagem no e-mail indicado, com as instruções a serem seguidas.

Você já está logado com o e-mail informado.
Caso deseje alterar as opções de recebimento das newsletter, acesse o seu painel de controle.

MilkPoint Logo MilkPoint Ventures