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Qual é a importância da demografia em rebanhos leiteiros?

VÁRIOS AUTORES

RODRIGO DE ALMEIDA

EM 12/06/2024

11 MIN DE LEITURA

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A demografia refere-se ao estudo das populações e sua evolução temporal, no que diz respeito ao seu tamanho, sua distribuição espacial, sua composição e suas características gerais. Na produção animal, é utilizada para entender a dinâmica populacional de um rebanho em um determinado espaço de tempo e a influência de fatores como nascimentos e saídas de animais do rebanho, além de fatores dinâmicos como reprodução, fertilidade e sanidade.

Tais fatores resultam em uma distribuição de rebanho específica que, para fins analíticos, pode ser estratificada em 5 grupos, sendo: bezerras e novilhas até 12 meses de vida, novilhas de 12 a 24 meses de vida, vacas secas, vacas primíparas em lactação e vacas multíparas em lactação. Cada grupo pode ter subdivisões que irão facilitar a avaliação da demografia do rebanho e as causas que levam a sua distribuição. 

Não há um consenso claro e definitivo de o que seria uma distribuição demográfica ideal para um rebanho, haja vista que fatores zootécnicos e econômicos influenciam na definição do que cada rebanho toma como objetivo, tendo claro que cada perfil de rebanho trabalhará com os benefícios e também com os ônus de sua distribuição.

Mesmo assim, recentemente, os autores do capítulo de consumo alimentar do novo NASEM (2021) sugeriram um percentual médio de 40% de primíparas entre as vacas lactantes. Já no estudo de índices zootécnicos, está bem estabelecido que, idealmente, os rebanhos leiteiros deveriam ter no mínimo 85% das vacas em lactação (e por conseguinte, no máximo, 15% de vacas secas). Ao incluirmos neste cálculo todos os animais do rebanho, de “mamando a caducando”, deveríamos ter como meta 50% dos animais do rebanho como vacas lactantes (e os outros 50% deveriam ser bezerras, novilhas e vacas secas).

Dentre as informações que a análise de demografia de rebanhos nos traz, talvez a de maior impacto é a longevidade das vacas. Isso porque a longevidade do rebanho é um fator que engloba eficiência econômica, zootécnica e comercial, dada a crescente pressão de consumidores em relação ao bem- estar e qualidade de vida dos animais envolvidos na produção de alimentos.

A vida produtiva de vacas leiteiras está entre 2,5 a 4 lactações. Rebanhos em crescimento apresentam idades médias menores, dada a maior proporção de primíparas nestes rebanhos. Rebanhos estáveis em número de animais em produção apresentam maiores idades médias, com maior proporção de vacas adultas de 3 ou mais partos. No entanto esses valores são definidos principalmente pela taxa de descarte e reposição do plantel, e taxa de nascimento de fêmeas.

A propósito, a proporção de vacas adultas de um rebanho, que seria a proporção de vacas de 3 ou mais partos, pode ser usada como indicador de bem-estar e longevidade de vacas em rebanhos leiteiros. Na província canadense de Quebec, a instituição que promove e oferece o controle leiteiro de rebanhos chamada Lactanet, categoriza como rebanhos longevos aqueles que possuem 35% ou mais de vacas adultas.

Quanto a taxa de descarte, rebanhos em crescimento descartam menos, pois há uma pressão para o aumento no número de animais produtivos. Economicamente, se você constrói um novo barracão de vacas ou expande a sua sala de ordenha, você deve ocupá-los o mais rápido possível, certo?

Definir com precisão qual é a vida produtiva que o rebanho deve ter é algo desafiador. O Dr. Albert De Vries (University of Florida) desenvolveu um modelo que apresenta 5 fatores chaves que devem ser considerados para a tomada de decisão. São eles:

  • Custo de oportunidade de bezerros: leva em conta que rebanhos jovens têm menores oportunidades de uso de cruzamentos com raças de corte, visando mercado de recria para os machos, algo que vem sendo cada vez mais explorado.
  • Custo de vacas adultas: manter animais mais velhos no rebanho implica em maior incidência de doenças, resultando em maior custo com tratamentos.
  • Custo de falta de maturidade: por outro lado, maior número de animais jovens em lactação reflete em maior proporção de nutrientes sendo direcionado ao crescimento corporal desses animais em detrimento da produção.
  • Custo de reposição: rebanhos mais jovens precisam de um maior estoque de animais jovens para repor as saídas dos animais adultos.
  • Ganho genético: rebanhos mais jovens apresentam características genéticas superiores a rebanhos mais velhos, pela redução do intervalo entre gerações.

Quando a longevidade é aumentada, implica em um animal com idade precoce ao primeiro parto, vida longa e lucrativa, abrindo a oportunidade de maior descarte de vacas menos produtivas. Isto gera um impacto positivo na lucratividade da atividade leiteira por reduzir os custos de reposição e permitir a máxima produtividade por animal, que é obtida em sua maturidade. Além disso, a longevidade melhora os índices de bem-estar animal e de qualidade de vida, reduzindo a pegada ambiental da atividade leiteira, tornando-a mais sustentável.

Figura 1. Os 5 fatores do custo total de manutenção da estrutura do rebanho: custo de oportunidade genética (vermelho), custo de reposição do rebanho (amarelo), custo de falta de maturidade (verde), custo de vacas adultas (roxo) e custo de oportunidade de bezerros (azul). A expectativa de vida produtiva ideal é aquela em qual o custo total é o mais baixo. A vida útil produtiva ideal é de 5 anos neste exemplo. A linha azul acompanha o eixo direito e as barras o eixo esquerdo.

Os 5 fatores do custo total de manutenção da estrutura do rebanho

Fonte: De Vries, J. Dairy Sci., 2020.

Nesse mesmo trabalho, a partir do modelo criado, o pesquisador De Vries aponta que, dentro do cenário econômico estudado, o ponto ótimo entre os custos de oportunidade seja atingido em rebanhos com taxa de descarte ou reposição de 20% e média de 5 lactações. Como falamos acima, a média de lactações em rebanhos comerciais está entre 2,5 a 4 anos. Ao confrontarmos esses valores ao 20% sugerido por De Vries, é perceptível uma janela de melhoria na longevidade dos rebanhos. Com isso, é fundamental entender as causas que impedem os rebanhos de aumentar a longevidade de seu plantel.

A saída de animais do rebanho é um fator diretamente relacionado à longevidade e se dá por três razões principais: venda, descarte ou morte. A venda do animal é caracterizada pela sua transferência para outro rebanho, com objetivo de continuar produzindo. O descarte ocorre quando o animal sai do rebanho ainda vivo, mas tem como destino o abatedouro. Os motivos para descarte podem ser classificados como voluntários ou involuntários.

O descarte voluntário ou por razões econômicas ocorre a partir da decisão do produtor, referindo-se as vacas vendidas a outros rebanhos ou para fins que não o abate. Ocorre quando não há razões relacionadas a problemas de saúde para um criador decidir descartar sua vaca. Já doenças, problemas reprodutivos e problemas locomotores são razões classificadas como descarte involuntário ou por razões biológicas. Já a morte é caracterizada quando esta ocorre dentro da propriedade, sendo acompanhada ou não de eutanásia. Identificar as causas de saída do rebanho é fundamental, pois permite o esclarecimento e a tomada de decisão assertiva para o aumento da vida produtiva do rebanho. Taxas de descarte involuntário elevadas podem estar associadas ao aumento dos custos de produção, considerando que a substituição de uma vaca é um importante custo nas fazendas leiteiras.

Outro fator a ser considerado dentro dos custos de produção é que tipicamente, vacas primíparas ainda não amortizaram seus custos de criação. Embora esta estimativa seja impactada por três principais fatores (preço do leite, custo alimentar e produção de leite das vacas jovens), estima-se hoje que demora 1,5 lactação para uma vaca amortizar o investimento que foi feito na sua criação.

Um outro componente que não pode ser ignorado é que taxas de descarte elevadas também têm um maior impacto ambiental, uma vez que é necessário criar novilhas adicionais para reposição e a quantidade de leite por unidade de metano será reduzida (ou seja, menor eficiência ambiental).

Frequentemente são utilizadas estatísticas para medir a vida produtiva dos animais no rebanho, como por exemplo a taxa de rotatividade, média de paridade, média de idade ao descarte e porcentagem de vacas com três ou mais lactações no rebanho.

Outros fatores indiretos também estão relacionados a redução da taxa de descarte e podem ser trabalhados como alternativa no aumento da longevidade média do rebanho como:

  • DEL: a manutenção dos dias em leite do rebanho em patamares ideais, inferior a 180 dias, posiciona o rebanho como um todo em uma estabilidade de partos, sem concentrações de animais em pré e pós-parto em determinados períodos do ano, reduzindo incidência de doenças e descarte, além de manter altos níveis produtivos por ter uma grande proporção das vacas na primeira metade de lactação, mais próximos ao pico.
  • Índices reprodutivos: para garantir um DEL médio estável e a taxa de reposição do rebanho, taxas de prenhez entre 25 até 30% garante que descartes por reprodução ou baixa produção serão reduzidos, com isso descartes involuntários também terão queda.
  • Mitigar doenças de rebanho: monitorar e controlar mastite, desordens metabólicas, doenças pós-parto, claudicação e outras doenças reduz a saída e a mortalidade do rebanho, permitindo que vacas adultas permaneçam por mais tempo no plantel.
  • Ambiência e estresse térmico: a gestão do estresse térmico, conforto de camas e limpeza de camas e corredores refletem em maior produtividade, melhor reprodução, menor risco de acidentes, refletindo em maior longevidade do rebanho.

Outros aspectos a serem notados, estão relacionados ao meio ambiente e a percepção dos consumidores sobre a longevidade dos animais. Ambientalmente uma maior longevidade reduz a emissão de carbono pela menor reposição das novilhas que representam 21% a 26% do total de emissões de metano em um rebanho. Por ser um indicador global de bem-estar animal, a morte precoce das vacas na indústria leiteira gera uma preocupação dos consumidores, visto que naturalmente as vacas podem chegar até 15-20 anos. Na Europa e nos Estados Unidos, os consumidores estão dispostos a pagar mais por produtos de fazendas com elevado bem estar animal, e particularmente os consumidores europeus acreditam que produtos de origem animal importados devem estar sujeitos ao mesmo nível de padrões de bem-estar impostos aos agricultores da União Europeia, apontando uma possível barreira comercial entre países, criando a necessidade na adoção de manejos e tecnologias que visem o aumento da longevidade.

Por fim, a longevidade dos animais dentro das propriedades leiteiras não é regularmente mensurada ou relatada, apesar de ser um dado valioso na tomada de decisões da propriedade. As dificuldades alegadas normalmente estão relacionadas a carência de dados e de uma métrica a ser utilizada, o que só será solucionado se as respectivas propriedades tiverem a iniciativa de priorizar as anotações zootécnicas dos animais e o mapeamento correto das causas de saída dos animais do rebanho.

Atualmente, o Grupo do Leite da UFPR está finalizando um projeto que descreve a demografia de rebanhos leiteiros no Paraná, buscando ampliar os estudos e trazer melhores métricas para este tema tão essencial na lucratividade dos rebanhos leiteiros. Compartilharemos os resultados em breve!

 

Autores

Marianna Marinho Marquetti - Zootecnista, Mestranda em Zootecnia (UFPR);

Lorenzo Camelo Copetti - Médico Veterinário, Mestrando em Zootecnia (UFPR);

Giorgia D’Albuquerque Zancan Bueno - Graduanda em Medicina Veterinária (UFPR);

Rodrigo de Almeida - Médico Veterinário, Professor Associado do Departamento de Zootecnia (UFPR).

 

Referências

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NATHANIELE VIANA

CURITIBA - PARANÁ - ESTUDANTE

EM 13/06/2024

Excelente matéria. Muitos produtores descartando as vacas antes de chegarem na lactação mais produtiva.
RODRIGO DE ALMEIDA

CURITIBA - PARANÁ - PESQUISA/ENSINO

EM 21/06/2024

Obrigado pelo seu comentário, Nathaniele.

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