A terapia parenteral para a mastite clínica pode trazer vantagens em relação ao tratamento intramamário naqueles casos em que dois ou mais quartos estão infectados, e quando ocorre inchaço em um ou mais quarto, o que dificulta a difusão do antibiótico para as áreas afetadas.
Foi desenvolvido na Nova Zelândia um estudo para avaliar a eficácia do tratamento parenteral para mastite clínica, enfocando principalmente agentes Gram positivos, como o Streptococcus uberis. Os antibióticos selecionados para a avaliação foram a tilosina (T) e o hidroiodeto de penetamato (HP), uma vez que estes são bases fracas e altamente lipofílicas, o que resulta em maiores concentrações no leite em relação do sangue. A tilosina é um antibiótico macrolídeo, cujo mecanismo de ação é baseado na inibição da síntese protéica de bactérias.
O penetamato é um éster penicilínico resistente a penicilinase e com boa ação contra cocos Gram positivos. O estudo foi desenvolvido em 30 rebanhos com média de 347 vacas por rebanho, produção de leite baseada em pastagens e parição concentrada na primavera. Ao todo, foram avaliados 1.070 casos clínicos nos dois primeiros meses de lactação. O diagnóstico do caso clínico foi feito com base nas alterações visuais do leite ou por inchaço do úbere.
Para cada caso clínico, foram coletadas amostras de leite para cultura microbiológica e identificação do agente causador, sendo em seguida submetido a um dos seguintes tratamentos administrados por via intramuscular: 3 injeções de 5g de hidroiodeto de penetamato ou 3 injeções de 5g de tilosina, ambos com intervalo de 24 horas entre as aplicações. Após o tratamento, o leite foi descartado por 72 horas. Todos os quartos que incluídos no estudo foram novamente avaliados após 14 e 21 dias do tratamento para determinação da taxa de cura microbiológica.
O S. uberis foi o agente mais isolado dos casos de mastite, atingindo 74%. O número de casos clínicos de mastite não curados (com necessidade de outro tratamento dentro de 21 dias) foi semelhante entre os dois tratamentos (20,7 e 17,9%, respectivamente para o HP e T). Da mesma forma, a taxa de cura bacteriológica geral foi similar para os dois grupos de tratamento, atingindo 79,2% para a HP e 82% para a T (Tabela 1). Deve-se ressaltar que as taxas de cura clínica e bacteriológica foram influenciadas pela idade, rebanho estudado, gravidade do caso clínico, espécie bacteriana e dias em lactação. Outras variáveis estudadas, como a produção de leite, composição e CCS também não apresentaram diferença entre os dois grupos tratados.
Tabela 1. Taxa de cura microbiológica geral.
Fonte: adaptado de McDougall, et al, 2007.
Quando considerada a taxa de cura distribuída por agente causador de mastite (Tabela 2), não houve diferença entre dos tratamentos. Para o S. uberis, as taxas de cura foram de 87,7 e 89,8%, respectivamente para o tratamento com hidroiodeto de penetamato e tilosina. É interessante notar que a taxa de cura para o S. aureus foi bastante inferior, ficando em aproximadamente 30%.
Os resultados desse extenso estudo indicam que para rebanhos com alta prevalência de S. uberis, a terapia parenteral para os casos clínicos no início da lactação pode ser uma boa alternativa. Alem disso, os dados reforçam a necessidade de identificação do agente causador para melhor direcionamento do tratamento e controle da mastite.
Tabela 2. Taxa de cura distribuída por agente causador de mastite.
CNS: estafilococos coagulase negative. Fonte: adaptado de McDougall, et al, 2007.
Fonte:
McDougall, et al, Journal of Dairy Science, v. 90, p. 779-789, 2007.