Os efeitos positivos da suplementação do selênio (Se) e da vitamina E (Vit E) na dieta de vacas leiteiras têm sido estudados com objetivos principais de aumentar a capacidade de resistência contra a mastite.
Os primeiros estudos sobre o assunto foram desenvolvidos nos EUA e datam da década de 1980, cujos resultados apontaram para redução da ocorrência de mastite em vacas com suplementação de Vit E no período seco. De forma similar, os resultados de estudos com a suplementação de Se no período pré-parto indicaram que poderia ocorrer redução da prevalência de mastite clínica no início da lactação de até 38%.
Em levantamentos realizados no estado de São Paulo, identificou-se que o nível de Se em forrageiras era deficiente, o que acarreta redução dos níveis sanguíneos deste mineral em vacas leiteiras. Além disso, as vacas normalmente reduzem o consumo de matéria seca no período peri-parto, provocando menor capacidade de ingestão de Se, Vit E e outros nutrientes.
Para estudar o impacto da suplementação de Se e de Vit E, no período pré-parto, sobre a prevalência de mastite clínica em vacas da raça holandesa, foi desenvolvido um experimento no estado de São Paulo, cujos resultados foram publicados recentemente.
Esse estudo foi desenvolvido em fazenda comercial e contou com a participação de 80 vacas durante o período seco, as quais foram todas submetidas à terapia da vaca seca no momento da secagem. As vacas selecionadas foram sorteadas em quatro grupos para receberem um dos seguintes tratamentos:
a) suplementação de 2,5 mg de selênio/dia (selenito de sódio),
b) suplementação de 1.000 UI de vitamina E/dia (acetato de alfa tocoferol),
c) suplementação de selênio + vitamina E/dia,
d) controle (sem suplementação de selênio e de vitamina E).
As vacas que receberam o Se e/ou a Vit E tiveram a suplementação feita 30 dias antes da data prevista de parto até a parição. As vacas participantes foram analisadas quanto à concentração sangüínea de Se antes da suplementação, no dia do parto, 30 e 60 dias após o parto. Além disso, foram monitoradas quanto à ocorrência de mastite clínica pela observação de alterações visuais no leite antes da ordenha (teste da caneca de fundo preto).
Os níveis sangüíneos de Se antes da suplementação foram semelhantes entre os quatro grupos de tratamentos, indicando que todos os animais partiram do mesmo patamar antes do início do experimento.
Contudo, as vacas que receberam a suplementação de Se e Se+Vit E apresentaram níveis sangüíneos de Se maiores que as vacas do grupo controle, no momento do parto e 30 dias após (ver Tabela 1).
Tabela 1. Níveis de selênio (µg mL-1) no soro de vacas holandesas nos períodos: antes do parto, no parto, 30 e 60 dias pós-parto(1).
(1)Médias seguidas de letras diferentes na coluna, diferem entre si pelo teste de Tukey (p<0,05)
Com relação à mastite clínica, não foi encontrado efeito significativo do selênio e da vitamina E sobre a prevalência de mastite clínica, indicando que mesmo que a suplementação tenha sido capaz de elevar as concentrações sangüíneas, isso não foi suficiente para ter efeitos sobre a mastite.
Esses resultados contrariam outros estudos que utilizaram doses mais elevadas de selênio e vitamina E para suplementação, no entanto representam uma importante contribuição, pois foram desenvolvidas nas condições dos rebanhos nacionais.
Fonte: Paschoal et al., Pesq. Agropec. Bras., v.40, n.10, p.1043-1046, out. 2005