Onde está o leite do Nordeste?
Foi mais ou menos essa pergunta que me fizeram no último “Fórum MilkPoint Mercado” em Goiânia, durante os debates da Mesa Redonda “Para onde caminha o mercado lácteo no Nordeste?”, no qual destaquei o tremendo crescimento da produção de leite naquela região, ilustrando-o com diferentes gráficos e informações, como o gráfico 1.
Gráfico 1. Participação da produção de leite no Nordeste brasileiro sobre o total do país.
Fonte: elaborado pelo MilkPoint Mercado com base em dados da Pesquisa Pecuária Municipal (PPM) do IBGE.
Claramente o volume de leite produzido no Nordeste brasileiro cresceu muito mais do que a produção total do país, passando de 10,5% do total do país em 2013 para quase 18% em 2023.
A análise dos dados da Pesquisa Trimestral do Leite (PTL) e dos recém-publicados dados da Pesquisa Pecuária Municipal (PPM), ambas do IBGE, dão uma pista para esclarecer o questionamento do título deste artigo. Como esclarecimento e para fins desta análise (essa discussão de leite formal e total pode ser realizada em outra oportunidade), consideraremos os dados da PTL como a produção formal e os da PPM como a produção total de leite no país e nas diferentes regiões; a diferença entre uma e outra representa o leite informal (que não passa por algum tipo de inspeção sanitária).
Assim, no gráfico 2, mostramos a evolução da produção total de leite e da produção “formal” de leite no Nordeste, bem como a estimativa do leite “informal” naquela região. A título de comparação, as mesmas informações são apresentadas no gráfico 3 para a região Sul do Brasil.
Gráfico 2. Região Nordeste - Produção total, formal e estimativa do leite informal.
Fonte: elaborado pelo MilkPoint Mercado com base em dados da Pesquisa Pecuária Municipal (PPM) e da Pesquisa Trimestral do Leite (PTL) do IBGE.
Gráfico 3. Região Sul - Produção total, formal e estimativa do leite informal.
Fonte: elaborado pelo MilkPoint Mercado com base em dados da Pesquisa Pecuária Municipal (PPM) e da Pesquisa Trimestral do Leite (PTL) do IBGE.
Realidades muito diferentes para as duas regiões onde a produção de leite mais cresce no país. No Nordeste, a cada 10 litros de leite produzidos, quase 7 seguem o caminho informal de comercialização (entre várias alternativas, destaca-se a produção de queijo coalho diretamente por produtores ou por micro indústrias que não operam sob algum tipo de inspeção sanitária e que compram sua matéria prima de tanques coletivos e/ou de donos de linha de leite – intermediários que fazem a coleta de leite de vários pequenos produtores). No Sul do Brasil, cada 10 litros de leite produzidos resultam em 8,5 litros processados por indústrias sob inspeção.
Este é somente um dos enormes desafios da região Nordeste do país, que tem um grande crescimento da produção de leite e (ainda) uma demanda enorme, ainda hoje atendida prioritariamente por leite e derivados produzidos em outras regiões do país. E, obviamente, um enorme desafio também para indústrias formais e sob inspeção sanitária que se dispõem a investir em plantas industriais naquela região.