Como abordado em outros artigos da coluna ESALQLAB, a inclusão de coprodutos nas dietas de vacas leiteiras é uma peça-chave para a formulação de dietas eficientes. Neste contexto, a inclusão do farelo de bolacha (Figura 1) na alimentação dos rebanhos pode ser uma boa opção dependendo da disponibilidade e qualidade desse coproduto em sua região. O coproduto em questão apresenta-se como uma fonte acessível de energia, com altas concentrações de carboidratos não fibrosos (principalmente amido) e gordura.
Figura 1. Amostra de farelo de bolacha recebida pelo ESALQLAB.
Obtido através do aproveitamento do resíduo da fabricação de biscoitos, bolachas e outros alimentos, o farelo de bolacha apresenta boa aceitação pelos animais. Outra vantagem é que, embora tenha quantidades de proteínas similares ao do milho, seu preço é mais acessível tornando ele um alimento estratégico para formulação.
O Brasil se destaca como um dos maiores produtores de bolacha do mundo, oferecendo uma ampla variedade de biscoitos e derivados. Desta forma a sua composição nutricional sofre grandes variações influenciadas pelo armazenamento, processamento industrial, matéria prima, região e uma série de outros fatores. Por estes motivos, o farelo de bolacha é um alimento de composição bromatológica heterogênea possuindo amplitudes nos teores de gordura, amido, proteína e fibra.
Com o objetivo de compartilhar e expandir o entendimento sobre a composição do farelo de bolacha, a equipe do laboratório ESALQLAB realizou uma análise retrospectiva em seu banco de dados e apresentou os resultados na Tabela 1. Nesta tabela é possível verificar que é um alimento de baixo teor de fibra em detergente neutro (12,08%) e elevado teor de nutrientes digestíveis totais (88,03%) uma vez que a maior composição deste alimento é baseada em carboidratos não fibrosos (61,34), extrato etéreo (11,44%) e proteína bruta (11,11%). É crucial destacar que o banco de dados possuía valores de matéria seca abaixo de 90%, levantando preocupações com à maior vulnerabilidade dos coprodutos à contaminação por micotoxinas. Essas substâncias tóxicas, geradas por fungos, podem resultar em perdas na produção e afetar a saúde do rebanho quando presentes em altas quantidade nos alimentos.
Tabela 1. Valores médios, mínimos e máximos observados para a composição bromatológica do farelo de bolacha das amostras recebidas pelo ESALQLAB.
Item |
Média |
Mínimo |
Máximo |
CV |
Amido (%MS) |
46,72 |
38,60 |
60,00 |
17,52 |
Carboidratos não fibrosos (%MS) |
61,34 |
53,60 |
69,90 |
10,03 |
Fibra em detergente neutro (%MS) |
12,08 |
3,20 |
20,00 |
49,99 |
Nutrientes digestíveis totais (%MS) |
88,03 |
76,50 |
99,00 |
8,45 |
Matéria mineral (%MS) |
5,73 |
1,60 |
15,10 |
62,58 |
Proteína bruta (%MS) |
11,11 |
7,30 |
15,10 |
21,49 |
Extrato etéreo (%MS) Matéria seca (%) |
11,44 90,77 |
5,50 83,30 |
18,20 95,90 |
35,77 3,19 |
Fonte: ESALQLAB.
Os carboidratos não fibrosos são os principais constituintes deste coproduto e dentro dos constituintes do CNF o amido é o componente principal, com concentração de 46,72% e coeficiente de variação de 17,52%. É importante ressaltar que devido à alta concentração de amido, a inclusão do farelo de bolacha deve ser feita de forma a balancear as exigências do rebanho e com devida parcimônia para não haver prejuízos com distúrbios metabólicos.
O teor de extrato etéreo nesse alimento apresenta grandes variações (CV = 35,77%; Amplitude = 12,70%) e deve ser monitorado de forma frequente. A média para esse nutriente observado em nosso banco de dados (11,44%) se aproxima dos valores da literatura (CORASSA et al., 2013) e evidencia o farelo de bolacha como fonte de energia.
As amplitudes encontradas por estudo retrospectivo (Figura 2) indicam flutuações significativas no produto, provavelmente atribuíveis ao processo de fabricação e outras variáveis.
Figura 2. Composição bromatológica média do farelo de bolacha de amostras recebidas pelo ESALQLAB.
Fonte: ESALQLAB.
FDN: fibra em detergente neutro; PB: proteína bruta; EE: extrato etéreo; MM: matéria mineral; MOR: matéria orgânica residual.
Conclui-se que a utilização de farelo de bolacha na dieta de vacas leiteiras pode ser uma prática altamente benéfica. Uma vez que ao assegurar a qualidade nutricional do farelo de bolacha, pode-se maximizar a eficiência alimentar, promover a saúde e o bem-estar do rebanho, otimizando assim a produção de leite. Este estudo destaca dessa forma a importância da análise bromatológica para garantir a confiabilidade e o bom desempenho das dietas formuladas.
Referências
CORASSA, A. et al. Farelo de biscoito em rações para leitões na fase inicial. Comunicata Scientiae, v. 4, n. 3, p. 231-237, 2013.