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O fogo no Pantanal e o Agronegócio têm algo em comum e não é o que você está pensando

POR DIANA JANK

COMUNICAÇÃO COM O CONSUMIDOR

EM 29/07/2024

4 MIN DE LEITURA

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Em junho deste ano, tive o prazer de ir para o Pantanal Sul-mato-grossense, mais especificamente o da Serra do Amolar. Para mim, o Pantanal é poesia pura. Um profundo poço de diversidade – de fauna, de flora, de água e de gente.

A experiência, no entanto, começou a ficar diferente das outras vezes quando quase não pousei em Corumbá devido à baixa visibilidade. Do alto era possível ver uma enorme quantidade de focos espalhados emanando uma fumaça cinza que cobria grande parte do terreno com a ajuda do vento.

Uma vez em solo corumbaense, fui direto para o porto, onde peguei um barco para subir o rio Paraguai. Novamente surpreendida pelo cenário inédito para alguém que não mora na região ou a visita com frequência. Margens e margens completamente queimadas. Fogo, fuligem e mais fumaça. Triste demais.

Enquanto o sol quente batia no meu rosto, a água do barco respingava no meu braço e o cheiro de queimado pairava no ar, comecei a refletir sobre a realidade diante dos meus olhos. Senti raiva dos pecuaristas. Ou pelo menos, de quem eu achava que era a culpa até o momento. Como é possível continuar com práticas que podem acabar com a área que vivem? Não faz sentido. Devo dizer que sou filha, sobrinha e neta de engenheiros agrônomos, nascida e criada em uma fazenda produtora de leite no interior do Estado de São Paulo, parte da 4ª geração de uma família envolvida diretamente com o agronegócio.

No final da viagem, depois de muita inquietação, fui atrás de informações. O que eu não esperava era sentir na pele os efeitos dos ruídos de comunicação do setor. O meu setor. Na minha área de atuação. De fato, fica evidente que não faz sentido. E eles sabem muito bem disso. Quem não sabe é justamente quem não faz parte dessa realidade.

Estamos vivendo uma temporada atípica, claramente intensificada pelas mudanças climáticas. Muita chuva no Sul, forte seca no Centro-Oeste. Áreas que ainda deveriam estar alagadas em meados de junho sequer encheram e estão cobertas de matéria seca, o grande combustível do fogo. O problema é que 95% dos focos são consequências de ações humanas. É sabido que o fogo ocupa um espaço tradicional na maior planície alagada do mundo. Usado pelo homem para a renovação de pastagem, queimadas de lixo e também muito presente na cultura ribeirinha, especialmente para a limpeza de terrenos na busca por iscas ou coleta de mel.

Difícil simplesmente nomear culpados em uma situação lamentável na qual a vontade é de encontrar soluções. No entanto, para haver resolução, os problemas precisam estar bem endereçados. Para além disso, vindo da área de comunicação no agronegócio, é revoltante ver o quadro da imagem que se forma nas grandes mídias. Podemos afirmar que é uma representação do que acontece com o setor como um todo no país: conteúdos tendenciosos, falta de informação e de conhecimento, uma culpabilização rasa e um sensacionalismo profundo. Se o acesso aos dados é difícil para quem é do meio, imagine para quem mora nos centros urbanos.

Voltando às minhas origens, de um lado, preciso afirmar: produtor que se preze, sabe mais do que ninguém a importância da preservação da biodiversidade da área.  O Pantanal sofre risco de desertificação, o que o pecuarista faria com as milhares cabeças de gado que ali estão se isso acontecesse? Por outro lado, é mais simples culpar o criador de gado. É fácil demais vender uma ideia de poder, ganância e exploração associada ao produtor. Difícil mesmo é cobrar ativamente uma série de políticas públicas que já deveriam estar sendo praticadas e, em tempos de internet, buscar se aprofundar no contexto da realidade com tantos títulos de notícia duvidosos que entregam, tão facilmente, opiniões instantâneas.

Gustavo Figueirôa, biólogo e Diretor da SOS Pantanal afirmou em sua recente entrevista para a CBN que a maioria dos produtores estão conscientes da situação e, portanto, a culpa não deve cair apenas sobre eles. Na minha interpretação, na mesma medida que aqueles que ateiam fogo de forma irresponsável e ilegal não devem ser alocados como parte do Agronegócio brasileiro e sim identificados como criminosos ambientais. O trabalho de educação e conscientização de todos os moradores e envolvidos com o Pantanal é urgente. A sociedade civil tem sua responsabilidade, considerando a quantidade de terras privadas dentro da região. 

Difícil também falar de culpa, quando se entende a realidade de um ribeirinho. Literalmente deixados às margens do rio com inúmeras dificuldades e restrições de formas de remuneração. Talvez a empatia de enxergar um contexto no qual se permanece por horas com água até a cintura, no meio da vegetação densa, rodeado por diferentes tipos de animais esperando o começo da noite para pegar iscas nos ajude a compreender a ideia de atear fogo para limpar o local, mesmo na época da seca. Por isso, mais do que nunca, precisamos da ação dos governos federal, estadual e municipal, especialmente em relação ao planejamento de aceiros, pontos de coleta de água, assistência direta, programas de conscientização e rigidez na aplicação da legislação e de protocolos.

A falta de informação é um problema sério. Ela gera culpa de forma equivocada, corrobora para formações de opiniões sem embasamento e também provoca queimadas que nunca tiveram objetivos perversos, apenas instinto de sobrevivência daqueles que não têm acesso à ela.

Os períodos mais secos ainda estão por vir. O fogo pantaneiro tem história, origem e pode ser rastreado. Contamos com todos os envolvidos para a melhor contenção da situação, mas que não sejamos injustos com a grande maioria que clama pela preservação e vem escrevendo a história do Pantanal de forma harmoniosa entre o gado e a terra há tantos anos.

 

 

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Imagem: Gustavo Figueirôa, SOS Pantanal.

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THEREZA FONSECA QUIRICO DOS SANTOS

MUTUM - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 30/07/2024

Parabéns pela lucidez.
DIANA JANK

DESCALVADO - SÃO PAULO - INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS

EM 30/07/2024

Muito obrigada pelo apoio, Thereza!

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