Marketing de experiência: uma estratégia para otimizar a venda de queijos artesanais

Os Queijos Artesanais (QA) são produtos elaborados a partir de métodos tradicionais que são passados de geração por geração e que variam de acordo com a região, cultura familiar e local. Geralmente são produzidos em pequenas escalas, manualmente, sem padronização e podendo utilizar leite cru ou pasteurizado. Se destacam pela grande diversidade de sabores e texturas, que estão ligadas ao tempo de maturação e as reações de lipólise, glicólise e proteólise que ocorrem neste período.

Entretanto, mesmo em meio aos seus destaques e características sensoriais únicas, o comércio e os produtores de QA são constantemente desafiados no que tange a venda destes produtos e ao alto valor agregado.

Uma grande parcela deste produto é vendida em feiras, empórios e até mesmo, em comércios externos e localizados distantes das propriedades. Assim, requerem grandes cuidados e custos para a manutenção da qualidade durante as etapas de transporte, armazenamento e distribuição. Além disso, este tipo de produto apresenta grande valor afetivo que traz consigo, uma história familiar e cultural.

Por que estimular a venda de queijos artesanais?

Estimular a venda de QA é crucial para manter a valorização das tradições, dos conhecimentos locais, do patrimônio cultural e, gastronômico das regiões, além de representar avanços interessantes no desenvolvimento regional.

No Estado de Minas Gerais, por exemplo, muitas regiões produtoras de Queijos Minas Artesanais (QMA) feitos exclusivamente de leite cru individual (de apenas um produtor) e não padronizado, movem a economia local das cidades. Estes queijos são reconhecidos nacionalmente e internacionalmente (como é o caso dos de casca florida natural que com a regulamentação feita pela Portaria IMA N° 2307, de 12 de junho de 2024, tiveram suas portas abertas).

Regulamentar e estimular a venda destes queijos é apoiar pequenos produtores, mantê-los no campo, evitando o êxodo rural e fuga de uma cultura milenar tão importante para identidade e história cultural.

Regulamentar o comércio desses produtos, adequando normas sanitárias e apoiando registros apropriados, é essencial, pois muitas vezes esses produtos não estão devidamente cadastrados nos órgãos de inspeção. Essa medida não apenas legaliza produtos, que são patrimônio histórico de diversas cidades, mas também promove o aumento das vendas e impulsiona o desenvolvimento local e regional.

Criação e utilização do marketing de experiência:

Quando o assunto é estímulo e apoio as vendas de produtos artesanais, não se pode deixar de mencionar o papel do Estado e do município. É fundamental que o setor público desempenhe um papel ativo de incentivo. Para isso, podem ser promovidos encontros, diálogos, acordos e até mesmo, treinamentos dos produtores com especialistas da área.

Outra maneira de impulsionar as vendas é atrair os consumidores para conhecer os sistemas de produção de queijos. Essa estratégia é conhecida como marketing e experiência, onde os produtores abrem as portas de suas propriedades para receber o mercado consumidor, como ilustrado na Figura 1.

Além da interação com o consumidor esta estratégia possibilita ao produtor aumento de valor agregado dos seus produtos e maior divulgação da sua marca.

Figura 1. Fazenda que adota o marketing de experiência.

Fonte: Imagens cordialmente cedidas pela Fazenda Coruja, Barra de São Miguel -Cariri Paraibano. Primeira fazenda do Estado da Paraíba a receber o selo da ARTE.

O marketing de experiência é uma excelente estratégia não apenas para as vendas, mas para criar experiências memoráveis e despertar estímulos sensoriais e emocionais. Talvez, você que neste momento lê esta matéria, se recorde de sua infância junto aos seus e da simplicidade da vida no campo. A oportunidade de mostrar na prática essa realidade traz consigo uma memória afetiva que terá a possibilidade de ser passada para as novas gerações, Figura 2.

Figura 2. Imagem de uma atividade lúdica que pode ser desenvolvida durante o marketing de experiência.

Fonte: Autoras, 2024.

Como percebido na imagem, as crianças podem participar de atividades lúdicas como a de ordenha. Nela, as crianças estão seguras e sendo estimuladas em relação a concentração, escuta, respeito de comandos, criatividade, raciocínio, coordenação motora, dentre outras que são importantes para a formação delas. Além disto, uma simples atividade pode despertar os diferentes estímulos sensoriais e afetivos.

A abertura de portas requer uma rotina organizada, bem alinhada e de investimentos. Por outro lado, ela traz consigo um retorno muito além do econômico. Cada valor ali recebido, seja pelo convite individual para acessar a propriedade ou pela compra dos queijos artesanais, tem um significado diferente. Os clientes não compram apenas um produto, compram experiências e todos os bons momentos que elas podem proporcionar e marcar positivamente uma fase de suas vidas, Figura 3.

Figura 3. Registros de momentos durantes o marketing de experiência.

Fonte: Imagens cordialmente cedidas pela Fazenda Coruja, Barra de São Miguel -Cariri Paraibano. Primeira fazenda do Estado da Paraíba a receber o selo da ARTE.

Contudo, essa estratégia de vendas multifacetada, auxilia não apenas na visibilidade e nas vendas dos QA, ela é uma grande oportunidade de os consumidores conhecerem os processos envolvidos na fabricação de queijos, manterem as tradições, bem como, criarem memórias afetivas junto a sua família. O que no caso, tem um valor inestimável.

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Jamily Vitoria Silva Moreira

Discente do curso de Ciência e Tecnologia de Alimentos do Instituto Federal Sudeste de Minas Gerais – Campus Rio Pomba. Membro do Núcleo de Estudos em Queijos (NEQue).

Luana Lau Teixeira

Discente do curso de Ciência e Tecnologia de Alimentos do Instituto Federal Sudeste de Minas Gerais – Campus Rio Pomba. Membro do Núcleo de Estudos em Queijos (NEQue).

Vanessa Martins Teixeira

Discente do curso de Ciência e Tecnologia de Alimentos do Instituto Federal Sudeste de Minas Gerais – Campus Rio Pomba. Membro do Núcleo de Estudos em Queijos (NEQue).

Rafaela Teixeira Rodrigues do Vale

Eng. de Alimentos (UFCG), Mestre e Doutora em C&TA (UFV-DTA), Profª coordenadora do Núcleo de Estudos em Queijos (NEQue) do IF Sudeste MG - Rio Pomba.