A CCST é uma medida indireta do percentual de quartos mamários infectados no rebanho e apresenta relação positiva com a prevalência da mastite no rebanho e com a gravidade dos casos de mastite, sendo que este último depende do tipo de agente causador. A predominância do tipo de agente causador de mastite (ambiental ou contagioso) tem efeito significativo sobre a CCST.
Ainda que existam estimativas de pesquisa sobre a porcentagem de quartos infectados e a CCST, é muito difícil determinar com precisão a prevalência da mastite de um rebanho apenas com os resultados de CCST. Considerando que existe grande variabilidade da CCS individual das vacas, é necessário que os resultados de CCST sejam analisados ao longo do tempo, como indicativo da ocorrência de problemas de mastite subclínica.
Em termos de metas para a saúde da glândula mamária, recomenda-se CCST < 250.000 cel/ml e 85% das vacas com CCS individual <250.000 cel/ml (Tabela 5). Sendo assim, o objetivo de um programa de controle de mastite é o de reduzir a prevalência dessas vacas com alta CCS. Isso pode ser obtido pela redução da entrada desses animais no rebanho e pela diminuição da duração da mastite subclínica.
Tabela 1. Recomendações para metas da saúde da glândula mamária de rebanhos leiteiros.
Quando se classifica a CCS dos rebanhos em baixa (<150.000 cel/ml), média (150.000 a 250.000 cel/ml) e alta (250.000 a 400.000 cel/ml), grande parte da variação da CCS do tanque entre rebanhos pode ser explicada pelo manejo adotado. As práticas de manejo que estão associadas com a baixa CCS do tanque em rebanhos leiteiros são: terapia da vaca seca, rotina de ordenha adequada, desinfecção dos tetos após a ordenha e tratamento dos casos de mastite clínica. Os rebanhos de baixa CCS apresentam melhores condições de higiene que os de alta CCS, o que reduz a exposição aos patógenos e reduz a sua transmissão durante a ordenha.
Em um estudo realizado em 175 rebanhos da Zona da Mata de Minas Gerais, foram identificados os fatores de risco associados com a ocorrência de alta CCS no tanque. Foram identificados como fatores que não apresentam efeito sobre a CCST: o tipo de ordenha (manual, mecânica canalizada e balde-ao-pé), a idade média dos rebanhos, o local de ordenha e a realização de exames dos primeiros jatos de leite. A anti-sepsia antes e após a ordenha, a realização de linha de ordenha, o não fornecimento de alimento durante a ordenha foram identificados como procedimentos que contribuem para reduzir a CCST.
Considerando uma média de CCS do tanque ao longo do ano e calculando o desvio padrão (DP) desses dados, pode-se estabelecer uma faixa de variação (um DP acima e abaixo da média), o que representa um intervalo de confiança de 95%. As observações fora desse intervalo representam alterações reais da saúde da glândula mamária do rebanho e devem ser seguidas de medidas de controle. Por outro lado, o risco de ocorrência de mastite clínica aumenta em rebanhos com baixa CCST e com a elevada proporção de vacas com baixa CCS .
Para rebanhos que apresentam alta CCS por prolongados períodos é de fundamental importância a realização da CCS individual das vacas e a cultura microbiológica para identificação dos agentes causadores de mastite clínica e subclínica. Com base nos resultados da CCS individual, pode-se implantar as seguintes estratégias:
a) Primeiramente, identificar se a alta CCST tem origem em um reduzido número de vacas com CCS muito alta (<5%) ou se um maior número de vacas contribui para a alta CCST. Se essa primeira opção acontecer, recomenda-se avaliar detalhadamente esses animais quanto ao padrão de CCS ao longo da lactação, cultura microbiológica para identificação de agentes causadores e com base nesses resultados, pode-se realizar o tratamento intramamário, a secagem antecipada, descarte ou segregação.
b) Quando mais de 5% das vacas contribui para a alta CCST, um próximo passo seria diferenciar se as infecções são predominantemente crônicas ou novas. Caso a ocorrência de novas infecções seja elevada (>5%), é recomendável uma completa verificação em todo o programa de controle preventivo de mastite, com especial atenção para: o manejo de ordenha, pré e pós-dipping, tratamento de vaca seca, introdução de animais no rebanho e segregação de vacas com mastite crônica. Por outro lado, quando a taxa de infecções crônicas é alta (>5%), recomenda-se identificar esses animais e com base no perfil de CCS ao longo da lactação e dos resultados de cultura microbiológica, proceder a uma das seguintes medidas: descarte, segregação ou tratamento (durante a lactação ou secagem antecipada).
Considerações finais
O principal fator que afeta a CCS é a ocorrência de uma IIM. A definição de um limite de CCS para estimar a ocorrência de uma IIM em uma vaca depende de diversos fatores como a prevalência da mastite no rebanho, o estágio de lactação e qual a finalidade dessa informação. Ainda que o limite de 200.000 cel/ml seja reconhecidamente utilizado na grande maioria das situações, o uso de um valor único de CCS para tomada de decisões em um rebanho leiteiro pode levar erros de interpretação.
Referências bibliográficas
SANTOS, M. V. O uso da CCS em diferentes países In: Mesquita, A.J. Durr, J.W., Coelho, K.O. Perspectivas e avanços da qualidade do leite no Brasil. Goiânia: Editora Talento, p. 181-197, 2006.